sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Cigarro ontem e hoje


O fumo passou de hábito das grandes estrelas e de pessoas de inteligência e status para vício reprovável e autodestrutivo, na visão da sociedade



Audrey Hepburn na era de ouro do cigarro ao lado de um dos símbolos que mais vemos atualmente, em diversos lugares: Proibido Fumar


Quem não se lembra das imagens mais célebres de Audrey Hepburn, sempre elegante, fumando cigarros em sua famosa piteira? Pois o hábito de fumar foi símbolo de poder, sensualidade e status, principalmente nas décadas de 30 a 60, em que era relacionado sempre com pessoas elegantes e charmosas e com a cena boêmia. Muita coisa mudou na sociedade nas últimas décadas e as pessoas passaram a ter um novo olhar sobre o tabagismo: um hábito irresponsável e um vício que incomoda. Essa nova visão está cada vez mais forte e agora está ganhando o respaldo de leis antifumo que estão sendo aprovadas nas grandes capitais do país, Belo Horizonte entre elas.


“O cigarro virou uma coisa chique foi por causa de uma referência de uma vida boêmia de pessoas que eram consideradas chiques, muito resolvidas e também por uma relação do indivíduo consigo mesmo”, diz o professor do curso de Ciências Sociais e de Comunicação Social da PUC Minas, Euclides Guimarães. Ele também atribui a popularização do fumo ao caráter introspectivo do hábito, em que o indivíduo entrava em contato consigo mesmo. O cigarro também foi símbolo de libertação, especialmente quando as mulheres também se habituaram a fumar. “Introduz-se nesse hábito o feminino, quase como espécie de símbolo da emancipação da própria mulher sobre o status masculino, numa sociedade machista”, explica Euclides.


CINEMA E PUBLICIDADE

O cinema também teve papel importante na consolidação dessa imagem positiva do tabagismo na primeira metade do século XX. Filmes como Bonequinha de Luxo e Casablanca ilustravam a cena boêmia com bastante glamour, como um grupo de pessoas inteligentes e de expressão, sempre fumando um cigarro ou um charuto. “Fumar era chique, era só pra estrelas de Hollywood, só para mulheres bonitas e bem sucedidas”, afirma a contadora Heloísa Moreno, de 53 anos, que fumou por grande parte de sua vida. Ela diz também que o cigarro era tão comum em sua juventude que ela começou a fumar os cigarros do pai, sem a menor repreensão. “Nem escondido a gente fumava”, ela conta.


A publicidade do tabagismo nas décadas de 30, 40 e 50 refletia a percepção da época sobre o hábito de fumar. “O cigarro foi um dos primeiros produtos a enxergar essa coisa de valor agregado, que não vende apenas o produto, vende um estilo de vida de certa maneira associado ao produto”, diz o professor Euclides. Além da cena boêmia que o popularizou, as propagandas de tabaco dessa época envolviam médicos, esportes e até bebês (ver imagens abaixo). Nenhuma delas expunha corretamente os malefícios do fumo, e as pessoas passavam a fumar sem saber ou sem se importar com os males à saúde provenientes do hábito, como foi o caso de Heloísa, que conseguiu largar o vício.


MUDANÇA NA IMAGEM DO FUMO

Á medida que as descobertas da Medicina sobre o impacto do cigarro no corpo humano passaram a ser melhor divulgadas, a antiga visão do hábito de fumar foi se transformando e se deteriorando. O cigarro passou a ser visto como ato irresponsável, reprovável e de autodegradação. “Aparece uma nova ética, uma ética narcísica, um sentimento de culpa que você não tem com os outros, mas tem para si mesmo. E o advento dessa ética narcísica começou a questionar uma série de hábitos que mostram certo descuido do indivíduo para consigo mesmo, no sentido de irresponsabilidade mesmo”, explica o professor Euclides, que atribui a mudança brusca da visão do cigarro a essa nova ética que se desenvolveu nas últimas décadas.


A partir dessas novas idéias sobre o fumo, surgiu uma verdadeira campanha anti-tabagista na sociedade atual. As pessoas que fumam são alvo de repreensão e as não fumantes são desencorajadas a adquirir o hábito. “As pessoas que fumam estão cada vez mais sendo tolidas e há um preconceito bastante grande em relação ao cigarro”, afirma a engenheira Mara Maria de Araújo, de 50 anos, que começou a fumar por influência dos amigos e não parou mais. Essa discriminação muito se explica pelo incômodo que o não fumante sente ao estar no mesmo ambiente de um fumante.


AS LEIS ANTI-TABAGISTAS

Seguindo essa campanha antifumo que se estruturou na sociedade atual, várias capitais aprovaram e estão aplicando uma série de leis que restringem os espaços onde as pessoas podem fumar. Se sancionada pelo Governador Aécio Neves, a nova lei antifumo vai proibir que fumantes traguem seus cigarros em locais públicos fechados em Belo Horizonte. Além disso, a lei estabelece critérios mais rígidos para a liberação dos chamados “fumódromos” (leia mais).


O Deputado Estadual Alencar da Silveira Jr., um dos autores do projeto da lei, afirma que o objetivo dessa nova lei é realmente coibir o fumo em Minas Gerais. “As pessoas vão ter que entender que fumar faz mal a elas. A lei vai diminuir o consumo do cigarro”, diz o deputado. A lei mineira é diferente da de São Paulo, o foco dos autores foi na aplicabilidade do que foi estabelecido pela lei.


A aplicação dessa lei divide opiniões. “Eu sou contra esse tipo de lei, porque o fumante é um doente, como um alcoólatra. Eu que já parei de fumar sei o duro que é”, afirma a contadora Heloísa. Já Mara levanta dois lados da questão. “No caso da cidade de São Paulo, que o nível de poluição é muito alto, eu acho que a proibição do fumo em qualquer lugar é meio inócua, do ponto de vista de saúde. O que eu acho vantajoso é do ponto de vista do incômodo, por que o cigarro incomoda as outras pessoas que não fumam”, salienta a engenheira.



Propagandas antigas de cigarros eram associadas a esportes e à uma vida saudável, à imagem dos médicos e chegaram a utilizar até bebês!


Leia mais sobre a História do Cigarro.

Veja os dois lados da questão: Organização Fumantes Unidos e Associação Mundial Anti-tabagista (AMATA Brasil)

Veja o perfil de Alencar da Silveira Jr. no Twitter.


Fotos das propagandas retiradas do site Smoking Pot e de outros.

Por Renata Dias Ferreira

2 comentários:

  1. oi Renata,

    boa matéria. o enfoque foi muito bem escolhido e as fontes também.
    você poderia ter dado o crédito às imagens, ainda que elas sejam de divulgação, certo?
    abs,
    Daniela

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  2. complexo. graças a Deus nós temos um Estado justo e correto, completamente incorruptível e que só diz verdades, afinal, é ele quem define o que eu posso ou não enfiar goela abaixo. Mas pelo menos, vivemos num país livre!

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